sexta-feira, 22 de outubro de 2010

MOMENTOS DE REFLEXÃO


MISSA DE DOMINGO

Estávamos em Março.

Acompanhei hoje a minha amiga,e tambem no momento em que  viu  a sua irmã partir para sempre.

Estava serena. Por cima do seu peito e junto ao coração, várias bilhetinhos que as amigas quizeram que ela levasse para a eternidade. Não haviam lágrimas, apenas um silêncio.
Numa pequena mesa, a sua identificação com a sua fotografia.Até aqui tudo normal, não fora uma folha de papel exposta numa salva de prata redonda. Tratava-se de um poema escrito pela sua mão dias antes de partir. Como quase todas as pessoas que se encontravam no velório, também eu li.
Fiquei sem palavras! Como é possivel uma pessoa que sente a sua caminhada chegar ao fim, transmitir-nos serenidade, confiança, páz e pedir para ninguem chorar por ela.
Compreendi então porque ninguem chorava, excepto quando chegava alguem que deconhecendo o seu pedido, e como normal que é nestes momentos, se comoviam vertendo algumas lágrimas.
Professora de profissão, divorciada de um médico, uma linda filha de 26 anos e uma fé inabalável. Era uma pessoa cheia de força e acreditou sempre que conseguia sobreviver a uma terrivel doença que aos poucos a foi debilitando e que acabou por derrotá-la.
Era missa do sétimo dia e fui a convite da minha amiga, assistir à missa em sua memória, realizada na igreja que ambas frequentavam - a bonita igreja da Luz em Lisboa
Muito raramente vou assistir a missas, mas esta, eu queria estar presente, ao lado da minha amiga.Coincidência também, era o dia da Mulher.
Apesar de o meu pensamento estar na sua irmã, cuja partida me marcou, não consegui alhear-me do ambiente vivido naquela igreja.
Para mim, a missa era para ela, e ela mereceu tudo aquilo que ali se passou.
Foi uma missa muito especial. O que começou por ser de dôr e sentimento, tornou-se num momento de páz, de bem-estar e porque não dizê-lo de fé!
Saí fascinada com tudo o que lá aconteceu.A igreja não é muito grande, mas muito bonita e estava cheia.
Na ara onde se celebrava a missa, estava exposto um ramo de rosas brancas, cuja verdura pendia pela toalha branca bordada com temas religiosos.
Ao lado, num pequeno pulpito de madeira, um cidadão de meia-idade, de cabelo grisalho, e possuidor de uma belissima voz, cantava, as músicas religiosas, os salmos, e até as orações, como o Pai-nosso, acompanhado de uma guitarra que ele mesmo tocava

Como por magia, por detrás do altar, abre-se uma pequena porta e eis que surge o Pároco, homem novo,trajando de roxo claro. Quando entrou, deu logo para perceber que era uma pessoa que justificava o que trazia vestido. Uma voz calma, e um sorriso meigo, sem nunca desviar o olhar dos presentes, fizera o sinal da cruz, seguindo o cumprimento da leitura das escrituras, que eram alternadas com as musicas e com os acordes da guitarra, acompanhada pelas vozes afinadas, das dezenas de pessoas que assistiam à missa.

Depois dirigiu-se a todos os que estavam presentes, numa  fantástica homilia.

-Falou daquilo que devemos fazer e sentir pelos outros, estendo a nossa mão quando fôr precisa.
-Falou dos excessos do que se tem, e se deve repartir quando não precisamos.
-Falou da pobreza, aquela pobreza envergonhada e sofredora.
-Lembrou os valores da vida, a realização de projectos, da apreciação das coisas pequenas, que normalmente passam ao lado, ou que as pessoas teimam em não ver. Falou da juventude, da familia, dos indecisos que lutam para se encontrarem. Falou inclusivamente do Sol. Esse sol que nos ilumina, mas também nos aquece a alma, e que muita gente não sabe apreciar como uma graça divina. (estive dentro do meu carro a apreciá-lo e a usufruir dele, antes de vir para aqui.) Confidênciou-nos com um sorriso.
-Falou da mulher em particular, no seu papel de mãe-filha - companheira - (por se comemorar hoje o seu dia.)
-Mas a sua sensibilidade, levou a que não esquece-se o homem-dizendo com um sorriso terno, que o dia dele, (homem) é já no próximo dia 19.
Que lindo! Achei -Mas mais importante ainda- pediu a Deus pelos presentes, pelos doentes, e claro uma referência muito especial aos que já não se encontram entre nós, dedicando-lhe a missa, ao mesmo tempo que dizia seus nomes.
Para as familias e amigos, acredito que tenha sido o momento mais sentido e mais comovente de toda a missa.Vi as lágrimas rolarem pelas suas faces ao ouvirem os nomes que lhe eram familiares.
São homens como este, que na prática das suas obrigações, exercendo-a com toda a sua humildade e bondade, usando a palavra com toda  verdade, sabedoria e simplicidade, tocam nos corações de quem o escuta, fazendo a igreja e a fé de cada um, prosperar.


A missa acabou e soube então pela minha amiga, que essa pessoa maravilhosa que nos encheu o coração e nos transmitiu tanta coisa boa, padecia da mesma doença da sua irmã.

Fiquei mais uma vez sem palavras, e só posso dizer o seguinte:

Padre- Bem-haja, que a sua bondade e a sua partilha seja reconhecida por Deus e que tenha força para lutar e vencer.





texto:aline rocha
Março de 2009

4 comentários:

  1. Não tenho palavras Aline!

    Apenas que devemos saborear em paz, cada passinho desta caminhada...

    Beijinho de paz

    m.g.

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  2. Guida, tens razão,quando dizes que devemos saborear cada passinho da nossa caminhada.
    Foi isso que me me fez publicar esta minha experiência pessoal,que sendo só minha,eu quiz alertar à minha maneira,o que a vida tem de bom e como devemos valorizar o que os outros nos TRANSMITEM.
    Um beijinho

    aline

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  3. O teu relato está tão explícito que eu quase me senti tb nessa missa. Já passei por missas de encomendação do corpo(corpo presente) , do 7º dia, do 30º dia, etc. Dos meus pais, tios, amigos.
    Digo~te que nada nos tràs mais alívio nessa altura do que as palavras, ditas de modo certo e respeitoso , de um padre. Seja-se crente ou não, mais ou menos , nessa altura bebemos as palavras do padre, sentimos necessidade de tudo o que nos apazigue a alma, nos alivie a nossa profunda triteza.Como em todas as profissões/serviços ,tb há padres que não nos apaziguam, nem nos transmitem qq conforto.Lamentávelmente.

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  4. LINDO ESTE RELATO , ALINE. COMOVENTE MESMO. SABER DIVIDIR AS ALEGRIAS E TRISTEZAS, O PÃO DE CADA DIA, SABER CONFORMAR-SE COM O QUE DEUS NOS RESERVA...
    AMEI ESTAR AQUI COM VC E DEIXAR ALGUMAS PALVRAS DESDE O BRASIL.
    CARINHOS DA AMIGA
    OLGA MARIA

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