domingo, 8 de maio de 2011

A minha Escola Primária



Já passaram mais de cinco décadas, mas eu recordo como se fosse ontem!

Tanta coisa bela e bonita se passou naquela escola! Foi lá que eu comecei a ser a pessoa que sou hoje, graças à minha professora primária que me ensinou o princípio do necessário para uma aprendizagem para a vida futura.Ela alicerçou os meus comportamentos como, o gosto pela leitura, o respeito pelo próximo, o rigôr, a partilha, e o cumprimento do dever.
A escola era a segunda casa, e a professora a nossa segunda mãe.
Todas as crianças eram iguais e vistas como tal. Usávamos bata branca, que tinha de se manter limpa durante todos os dias da semana. Quando iamos para a escola sentiamo-nos importantes.Sabiamos que iamos aprender, aquilo que os nossos avós não aprenderam.
Lembro de mostrar ao meu avô a primeira página do livro da primeira classe e explicar-lhe:
A de Águia-E de Égua- I de Igreja- O de Ovo e U de Uva.
Era o princípio da longa caminhada.Depois quem não se lembra de “A gatinha e a bonecaO cavalo e o leão” Deu-la -Deu Martins”A cerejeira”A barca BelaQuem quer ver a barca bela, que se vai deitar ao mar, Nossa senhora vai nela e os anjos vão a remar, etc”Os ninhos”-ninhos ninhos gosto tanto de os achar entre as ramagens, ocultos pela folhagem são o meu maior encanto, etc.
Na parte final de cada livro a “Doutrina Cristã”. Foi por lá que aprendi a rezar o Pai-nosso, Avé Maria-Salvé Rainha-o Credo-o acto de contrição, etc.
Na minha escola havia as fotos de duas figuras de Estado - Marechal Craveiro Lopes e Salazar. Ao meio a cruz de Cristo Nosso Senhor.Era perante este simbolo e com todo o respeito que no começo de cada aula, todas as crianças se levantavam da carteira, faziam o sinal da Cruz e diziam uma oração, seguindo a nossa professora.
Quem não se lembra da sacola feita de pano, depois as malas de cartão de côr castanha com fecho e asa de metal?
Lá dentro um lápis de lousa que já tinha bico mas quando se gastava tinha de ser afiado numa qualquer pedra da rua.Uma lousa preta com ripas de madeira em volta, à qual lhe chamávamos “pedra”. Para a manter sempre limpa usavamos um frasquinho com água e um paninho, que as nossas mães nos arranjavam, quem sabe dum bocado de avental já velho! Este era o nosso “estojo”
Os livros cedidos pela escola passavam de ano para ano, de aluno para aluno e daí a nossa obrigação de os estimarmos.
Lembro os cadernos de duas linhas para a letra ficar certinha! A caneta de madeira com aparo que se tirava e punha, e se molhava naqueles tinteiros de tinta azul “Cisne”, os exames, as provas escritas, feitas em papel de 35 linhas, tudo tinha de ficar limpo sem borrões para que a nota fosse boa.No dia das provas, eram sempre momentos de ansiedade para qualquer criança.
No último ano 4ªclasse,todos com mais ou menos 10 anos de idade, deixáva-mos a nossa escola, trazendo connosco a sabedoria de quatro anos.
Há !Como eu me lembro da História, pequeno livro, que nos deu a conhecer as dinastias, os reis que governaram o nosso País, os seus cognomes, começando por D. afonso Henriques o “conquistador, o Gordo, o formoso, o elequente, o lavrador o justiceiro, etc.etc. etc.”
Ciências da natureza-do corpo humano às plantas tudo sabiamos na ponta da lingua.
Sim.Sabiamos em quantas partes se divide o nosso corpo, os nomes dos ossos, a grande e a pequena circulação, o aparelho respiratório, etc.etc.etc.
Quanto às  plantas, sabiamos a composição do caule flor e folhas, sabiamos as propriedades da fotossíntese, etc.etc.Sabiamos distinguir um tubérculo de uma raíz.
Geografia- Desde a divisão por distritos deste Portugal pequenino, até às nossas provincias ultramarinas, as capitais, as linhas de caminho de ferro e os rios, a produção de cada provincia, como o linh,o café o cacau a banana, etc.
Geometria- não tinhamos calculadora e os problemas resolviam-se.Sabiamos as medidas de superficie e de peso, o que era um quintal, uma tonelada, e ainda um kilómetro ou um hectómetro.Aprendemos que uma groza são 144 e que Pi é igual a 3,14.
Português, verbos, orações, ditados sem erros, fluente leitura dos textos.
Recordo as brincadeiras no páteo: o jogo da cabra cega- o lencinho- às escondidas e a macaca.

Lembro ainda uma pessoa que já não se encontra no meio de nós, mas que eu recordo com saudade,porque tambem ela tinha sido a professora da minha mãe.

A professora primária é sem duvida o pilar que nos ajuda a suster a nossa caminha na aprendizagem da vida,e quando ela  nos marca e  não a  esquecemos, é sinal que cumpriu o seu dever,parilhando não só o ensino como tambem o afecto.

Aline Rocha
Maio de 2011

7 comentários:

  1. Amiga
    Adorei passar por aqui!
    Saudades! A minha escolinha já não existe, ali, bem juntinha ao pinhal,uma sala enorme onde cabíam respeitosamente 40 e tais alunos de todos os anos.Havia vários professores, porque os alunos mais velhos coadjuvavam a professora e colegas. Era um mundo de partilha, com a rica professora Julieta, muito responsavel, trabalhadora e amiga de tantos filhos.
    Nesse espaço resolveram fazer grandes vivendas e construir uma escolinha mais pequena, no lado oposto da aldeia"Mêa".
    Obrigada por me fazeres recordar belos tempos.
    beijnhos
    maria guida

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  2. GOSTEI DO TEXTO.
    IMPECAVEL, CONTINUA E MUITOS BEIJINHOS.

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  3. Recordar é viver.
    Infelizmente, a minha velha escola já está fechada e degradada, o bairro já não tem crianças e por isso fico desolado.
    Faz bem em recordar o nosso passado.
    Só que para mim, não foram belos tempos, mas sim vida dura... bem, era jovem... só por isso.
    Faz favor de continuar para podermos reviver!

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  4. Antonio,
    Acredito que não tivessem sido belos tempos,mas certamente aprendeu até com essas dificuldades.
    Obrigado e um abraço,

    aline

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  5. Ehhhhhhhhhh miúda,sexta-feira 13...estivemos noutra escolinha........adorei!
    Vinha só ver se tinhas novidades!
    Um beijnho
    margui

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  6. Olá Aline,

    Adorei ler o teu texto. Como é bom recordar e reviver!! A minha escola também já não existe... mas a recordo como se fosse hoje.

    Bjs carinhosos.
    Patricia

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  7. querida Aline:
    Parabéns pelo seu comentário à escola da nossa infância! É consolador para nós que revemos o tempo passado e para os nossos netos que aprendem como nós éramos e tiram as conclusões que são muito importante para a sua vida. O seu e-mail é didatico e consolador.
    Um abraço
    Assunção

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