Sentado no seu cadeirão, Cabisbaixo e pensativo Digo-lhe, agarrando em sua mão Sabe que estou sempre consigo.
Pai, Estou feliz porque ainda o vejo Nas suas faces dou um beijo Abraço-o quando quizer, No seu peito sinto a esperança Nas palavras a confiança Tenho muito que lhe agradecer.
Filha - desgosto maior não existe Porque me falta o ouvido Por isso eu ando triste, Diz – me ele, já comovido!
Pai, Preciso do seu sorriso Da sua sabedoria e bondade Esqueça as suas agruras Não quero ver amarguras Nos seus olhos de bondade.
Quando eu agarro nas suas mãos Trémulas e deformadas Tenho a mesma confiança De quando eu era criança Afagando as minhas máguas.
Seu fio de cabelo branco Com brilho e seu encanto São trilhos de formosura, São juventude de medos Que eu acaricio com ternura Com a ponta dos meus dedos.
Figura frágil e generosa Sua voz é carinhosa Tem lentidão no andar, Usa a bengala porque é preciso Cumprimenta com um sorriso Gente que com ele se cruzar.
Tem minha mãe, sua companheira Há 66 Anos uma vida inteira, Ela mima-o e dá-lhe carinho Trata-o como um menino Utilizam o verbo amar, Meus pais que sempre vou adorar.
Fáz tempo, esse tempo que perdi Tudo são lembranças que não vivi Hoje, recordo tudo e quase nada, Por entre águas e vento Como paisagem sem alento Só a lua estáva iluminada.
Vejo uma nuvem no horizonte Qual princesa encantada A água a brotar da nascente Lembra-me que ainda sou gente Como a rosa delicada Que nasceu perto da fonte.
Ondas se formam e se desfazem Num vai e vem de coragem Deixando a espuma no areal Brincam e riem de mansinho De novo o mar, o seu caminho Parecendo tudo tão natural.
Dentro de nós o que existe? Um mundo presente e passado Por vezes alegre ou triste, Como água que corre sem parar Que na ponte não volta a passar Nós é que corremos para todo o lado.
Com tinta azul pintei o mar Com caneta de amor escrevi o poema, De nada sinto medo, nem sinto pena A noite mesmo escura não é triste, Porque meu cabelo branco existe, e As rugas em nada me vão mudar.
O mar azul define o horizonte Beijado pelo sol que me aquece Sinto o fascinio, visto do monte Um fim de tarde que adormece.
É tão lindo este momento Como é nobre o sentimento Por isso não vou esquecer, Do monte sinto a saudade Como sinto da mocidade Que não volta para me ver.
Crepusculo de um sol cansado Que desaparece atrás do monte Quadro de duas cores pintado, Com sol e mar retratado Traço fino no horizonte.
Fica a pintura na tela Saida da minha mão Pintada à luz de uma vela Numa noite de escuridão.